O Henrique saiu lá da ilha, veio de São Luís a Brasília,
tomou umas seis Bohemias sentado no boteco do “Mineirão”, enquanto eu ainda estava na primeira caipirinha. Sorriu, bagunçou meu cabelos como sempre e largou na
minha cara um monte de verdades. Só aí entendi o que agora parece tão óbvio. A um
interlocutor desavisado o que ele disse podia até parecer grosseria, mas é por
isso que esse amor e essa amizade dura tantos anos, essa sinceridade toda é o
segredo do nosso sucesso.
Sempre achei que verdades desmedidas e demasiadas são
algumas vezes maldosas, cruéis. E, portanto, desnecessárias. Não que eu goste
ou pratique mentiras, mas dizer o que pensa tem consequências e algumas vezes
quem diz não vê tais consequências como prejudiciais, já quem ouve sente o peso
da opinião alheia como um inquisidor. Mas
o Henrique sabe falar verdades e sabe fazer isso com um cuidado despretensioso
que não me fere, não me deixa com a sensação de que faltou sentimento ou de que
ele poderia ter feito ou dito diferente. Ele diz o que pensa, mas sabe o que
precisa ser dito e o momento certo. Entre nós não há jogos de adivinhações; em
um determinado momento da nossa história resolvemos que era melhor saber o que
o outro pensava e sentia do que deduzir, mas isso não foi decidido
contratualmente, foi sendo acordado à medida que a gente se conhecia e percebia
que isso era bom, era saudável para a nossa amizade e não machucava nenhum dos
dois. Que bom seria se as pessoas aprendessem a ser verdadeiras na medida
exata, sem usar o que acredita ser certo ou verdadeiro como forma de se vingar
do outro.
Ouvir o que ele pensa sobre mim e sobre o que eu sinto me exigiu
maturidade e humildade suficiente para abrir mão do afago verbal que eu sempre dispensei
a ele às outras pessoas. A diferença, a
sutil diferença, entre o que o Henrique me diz e o que uma simples pessoa
franca diria, além do bom senso é que ele não julga meu caráter, não me
constrange e não me ofende. Ele me traz
à lucidez, me mostra a realidade como ela é, mas sem destruir meus sonhos, minhas
crenças e meus desejos.
Precisando desabafar disse a ele que me envolvi com uma
pessoa e que agora eu inevitavelmente sofria. E ele citou um provérbio que atribuiu
a autoria aos árabes, mas no fundo eu acho que ele inventou aquilo na hora, só
pra não ter a dureza de uma reprimenda. Disse: “Cabeçudinha, já diziam os árabes
e você ainda não entendeu? Que num relacionamento sempre que está por cima é
quem se envolve menos? E que você será sempre quem estará por baixo, por causa dessa
sua entrega desmedida ao outro?” Eu podia simplesmente ignorar aquele recado e
seguir adiante, como tantas vezes já fiz, mas preferi concordar. E refletir...
Será essa minha dedicação ao outro sufocante ou insuficiente? Fundamental ou insuportável?
Saudável ou doentio? Eternizado em meus gestos ou efêmero como o momento? E me disse ainda: “Lidi, da próxima vez que alguém
disser a você que é preciso viver o momento, que antes fique claro qual é o
momento de cada um. Na maioria das vezes vocês estarão em ‘times’ tão distintos
que o próximo momento pode demorar ou nunca existir.”
Enfim... obrigada pelas verdades destiladas com tanto
carinho e cuidado. Serão válidas para SEMPRE!
Nenhum comentário:
Postar um comentário