segunda-feira, 19 de março de 2012

" Será que é tempo que lhe falta para perceber?"

Já fazia tanto tempo que ela não chorava. É bem verdade que antes as lágrimas eram frequentes, mas a vida tranquila que resolveu ter e os bons hábitos que adotou, entre eles o de se importar menos com o que os outros iriam pensar a seu respeito, lhe trouxe momentos de calmaria. Coração e alma leves, pés no chão. O que mais havia de querer?

Mas a sua ansiedade de querer saber o que vem depois do tchau, do beijo de despedida, da porta que se fecha, do boa noite engasgado, da luz apagada, lhe arrancou a paz. Talvez a imaturidade ou a impulsividade lhe trouxesse o inevitável: o afastamento daquilo que lhe trazia serenidade inenarrável.

Fazer o quê? Esperar, que o tal que cura tudo, por uns chamado de tempo, por outros de senhor da razão lhe devolva o que o insano levou.

Não lhe cabe a idéia de ser conveniente, não lhe serve o papel de estepe, a roupagem de oportuno não lhe cai bem. Melhor mesmo é ser única, é ser essencial, é ser o que te traz beleza ao dia e a insônia à noite. Se não for assim, melhor não ser nada! E dívida de nada é nada, não tem troco, não tem volta. Espera ela que não tenha também recomeço.

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.


Charles Bukowski


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