segunda-feira, 19 de março de 2012

" Será que é tempo que lhe falta para perceber?"

Já fazia tanto tempo que ela não chorava. É bem verdade que antes as lágrimas eram frequentes, mas a vida tranquila que resolveu ter e os bons hábitos que adotou, entre eles o de se importar menos com o que os outros iriam pensar a seu respeito, lhe trouxe momentos de calmaria. Coração e alma leves, pés no chão. O que mais havia de querer?

Mas a sua ansiedade de querer saber o que vem depois do tchau, do beijo de despedida, da porta que se fecha, do boa noite engasgado, da luz apagada, lhe arrancou a paz. Talvez a imaturidade ou a impulsividade lhe trouxesse o inevitável: o afastamento daquilo que lhe trazia serenidade inenarrável.

Fazer o quê? Esperar, que o tal que cura tudo, por uns chamado de tempo, por outros de senhor da razão lhe devolva o que o insano levou.

Não lhe cabe a idéia de ser conveniente, não lhe serve o papel de estepe, a roupagem de oportuno não lhe cai bem. Melhor mesmo é ser única, é ser essencial, é ser o que te traz beleza ao dia e a insônia à noite. Se não for assim, melhor não ser nada! E dívida de nada é nada, não tem troco, não tem volta. Espera ela que não tenha também recomeço.

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.


Charles Bukowski


segunda-feira, 5 de março de 2012

Estudar a ciência do Direito tem me feito sofrer, tenho medo de perder a doçura, de ficar com o coração endurecido. Já dizia o famoso brocardo jurídico: “Dura Lex, sed Lex” (a lei é dura, porém é a lei). E o que é o operador do Direito sem a lei? Nada. Então não tem jeito, tenho que entender a rigidez das circunstâncias e me distanciar do meu mundo onde o céu é de brigadeiro.
Li um livro de Michel Foucault que trata da criminalidade e da delinquência, embora banhado de caráter sociológico, nenhum dos relatos foi lido sem repugnância. Estudar tudo isso não me faz perder a fé na humanidade, mas faz eu enxergar que princípios humanísticos pouco recuperam ou reintegram o bandido à sociedade. Triste constatação. Aí me vem um monte de questionamentos de ordem emocional e espiritual.
O jornalismo me trouxe tanta poesia e literatura e o Direito me traz tanta reflexão. Sou cada dia uma pessoa diferente. Sempre fui convicta em tantas opiniões, hoje muitas vezes eu solto: não tenho opinião formada a respeito. Pensava ser esse discurso de quem tem preguiça de pensar. De quem não tinha disposição para ler e tirar suas conclusões sobre determinado assunto. Hoje sou muito cautelosa em muitas abordagens. Aprendi com um grande mestre que não existem verdades absolutas que nem mesmo a ‘ Dura Lex’ é absoluta, que existem os magistrados e ministros para interpretá-la. Então, porque eu terei verdades absolutas? Por que justo eu, serei peremptória em minhas afirmações?
Cada lei que eu leio, cada artigo que aprendo, cada jurisprudência destrinchada me traz um infinito mundo de possibilidades, tem sido bom, mas doído, sofrido, Aprender é difícil. O jornalismo não foi mais fácil, mas mais prazeroso, sem dúvidas.
Que eu leve para sempre a tenacidade vinda do poeta em meu caminho:


“Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. E você aprende que realmente pode suportar...
que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida."

William Shakespeare