quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder...para me encontrar.... "(Florbela Espanca)


Final de setembro é época complicada para mim. Todo ano é assim. Nunca me acostumo. Associo o momento ao falecimento da minha avó há dez anos. Além disso, odeio esse clima seco que sempre me presenteia com uma gripe e a cada ano com uma alergia diferente e olha que nasci aqui nesse deserto chamado Distrito Federal.

Gosto de ficar olhando os galhos ressequidos das árvores que imploram por chuva, eu também imploro... Apesar de adorar o sol, de achar que grande parte da perfeição da criação se traduz com o sol, sua beleza e sua grandeza. Queria chuva, mesmo com a melancolia que ela carrega.

Até porque a magnitude das obras de Deus não se revela apenas na existência do sol, mas mais ainda no mistério da vida humana e de suas possibilidades. Quanto a isso não posso reclamar, estou cercada de vida e de novas vidas. Meu lindo anjo Miguel, que ao sorri me faz feliz todos os dias, e desfaz qualquer incerteza da possível inexistência divina. Os bebês que vêm vindo aí (da Tati, Raquel, Lucélia...) e os que já estão por aqui, como a pequena Júlia há um ano. Transmite-nos luz, cor, calor, alegria e equiparam-se ao imponente sol.

Hoje já é primavera, que a beleza da estação das flores amenize os efeitos do clima de deserto que vivemos nos últimos dias e que a vida, simplesmente o valor maior, o reflexo de Deus, fruto do mais perfeito amor Dele por nós seja sempre celebrada com a certeza da plenitude e perfeição desse mistério.

"Aprendi com a primavera... deixar-me cortar e voltar sempre inteira!" (Clarice Lispector)